As informações e as curiosidades da Copa do Mundo da Rússia com a análise do colunista Rafael Morais
Postado em: 27/05/2018
Rafael Morais
No ano de 2010, a Islândia não figurava sequer entre os 100 primeiros colocados no Ranking da Fifa. A pequenina seleção ocupa hoje a posição 22, um crescimento absurdo suportado por evoluções sucessivas no desempenho islandês desde 2010.
O primeiro resultado expressivo colecionado pela seleção foi em 2013, quando a equipe quase se classificou para a Copa de 2014, ficando a um jogo de avançar para o Mundial, porém foi eliminada nos playoffs pela Croácia, do futuro técnico do Bayern, Niko Kovac.
Em 2015, a compensação pela não classificação à Copa de 2014 veio, com a equipe conquistando o direito pela primeira vez em sua história de disputar a Eurocopa, que aconteceria no ano seguinte na França.
Apesar de histórica, a classificação veio acompanhada de bons resultados na Euro. A equipe avançou até as quartas-de-final da competição, sendo parada pela anfitriã, a França.
Porém, não foi só o time que foi bem, a torcida, uma das mais barulhentas do torneio, ganhou simpatia mundial pela sua coreografia nos estádios. Quase 27 mil torcedores viajaram para ver o time na ocasião, o que resultou em 8% da população da Islândia na França para acompanhar a seleção, segundo o Iceland Monitor.
Faltava a classificação para a Copa do Mundo. Em um grupo com países tradicionalmente mais fortes como Croácia, Turquia e Ucrânia, a classificação não seria fácil, mas veio relativamente com sobras. O time conseguiu terminar em primeiro, com sete vitórias em dez jogos. A confirmação da classificação veio diante de Kosovo, em outubro do ano passado.
O fato de ser a quinta menor população dos países europeus que disputaram as elimnatórias demonstra a grandiosidade do feito. Será o menor país (em termos populacionais) a disputar uma Copa do Mundo, tomando o lugar de Trinidad e Tobago, que tem aproximadamente quatro vezes a população islandesa.
Fica a pergunta: Como uma ilha, com uma população menor que São José dos Campos, em um lugar pouco populoso e povoado, além do clima extremamente frio, conseguiu sua classificação à Copa do Mundo?
As sementes foram plantadas na década de 90, quando começaram as discussões sobre como superar os desafios populacionais e climáticos. As iniciativas começaram a render frutos em 2000, quando a Federação Islandesa começou a construir uma série de campos de futebol cobertos, parecidos com os nossos ginásios de futsal, chamados de football houses.
As cerca de 15 football houses foram construídas nesse período, suplementados por outros cerca de 20 campos outdoor de medidas oficiais além de 100 campos menores ao redor do país, que são utilizados geralmente seis meses por ano devido às condições climáticas. Todas as escolas no país possuem pelo menos um campo de futebol de dimensões reduzidas. Além de tudo, todas as football houses são públicas, tornando o acesso ao futebol não só mais fácil como também mais barato na comparação com outros países.
Ao mesmo tempo, a Federação Islandesa investiu pesado no treinamento de técnicos, começando um programa regular que tinha como meta ter treinadores com as licenças A e B da UEFA. A Federação conduz todos seus cursos em sua sede em Reykjavik, e decidiu não lucrar com os cursos, reduzindo os custos para os participantes.
A capacitação trouxe resultados significativos na formação de atletas. Segundo o jornal inglês The Guardian, um em cada 500 islandeses tinha alguma licença de treinador da UEFA. Muitos dos clubes têm técnicos licenciados da UEFA treinando crianças de 5 a 6 anos de idade.
Os resultados não vieram à toa. Mesmo com uma população minúscula e o clima adverso, a Islândia conseguiu superar todas as expectativas possíveis e mostra ao Brasil que, sim, a qualificação dos profissionais é o caminho.
Enquanto que São José dos Campos, com quase o dobro da população islandesa pena para manter um equipe na 4ª divisão do estado, a Islândia, em um território vulcânico esparsamente povoado, consegue se classificar para uma Copa do Mundo.