RADAR ENTREVISTA traz o vereador de oposição Professor Gleivison: "A política está transformando São Sebastião…

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São Sebastião - 02/06/2014 - A seção RADAR ENTREVISTA desta semana traz o professor e vereador de São Sebastião, Gleivison Gaspar. Vereador de oposição, ele falou sobre seu papel no Legislativo e a relação com o Executivo, sobre o convite que teve para assumir uma secretaria no atual governo. 
Professor Gleivison abordou ainda a tentativa de cassação de seu mandato dentro da Câmara e sobre uma possível candidatura a prefeito em 2016. Confira a entrevista exclusiva concedida ao RADAR LITORAL

São Sebastião - 02/06/2014 - A seção RADAR ENTREVISTA desta semana traz o professor e vereador de São Sebastião, Gleivison Gaspar. Vereador de oposição, ele falou sobre seu papel no Legislativo e a relação com o Executivo, sobre o convite que teve para assumir uma secretaria no atual governo. 
Professor Gleivison abordou ainda a tentativa de cassação de seu mandato dentro da Câmara e sobre uma possível candidatura a prefeito em 2016. Confira a entrevista exclusiva concedida ao RADAR LITORAL

Qual a avaliação da sua atuação na polícia?

Uma avaliação positiva, dentro do que eu esperava mesmo, nada que ferisse meus valores até agora.

Estamos em ano eleitoral e seu nome é colocado para uma possível candidatura a deputado. Isto procede realmente?

Há o comentário, mas nada oficial. Nada certo pra isso não.

Como é ser um vereador de oposição, talvez o único vereador de oposição na cidade? Você se considera um vereador oposicionista?

Acho que sou um vereador mais de opinião do que de oposição. Muito do que nós sugerimos o prefeito, de alguma forma, acaba aceitando. Ganha um tempo pra depois aceitar, pra não admitir os louros, a ideia vinda do nosso grupo. Sou mais de opinião do que propriamente de oposição. Mesmo porque não vejo nenhuma dificuldade em ser de oposição numa cidade do jeito que está. Seria muito estranho ser situação vendo a cidade naufragando como está.

Neste período de um ano e cinco meses como vereador, o que você vê como sua principal conquista?

Acho que a Lei do Piso, dos professores da rede, que era uma lei engavetada desde 2008. E acho que de alguma forma consegui elevar o nível do debate dentro da Câmara. As pessoas estão um pouco mais preocupadas, acompanhando um pouco mais a vida política. A gente coloca um tempero diferente lá dentro. Discute-se muito mais agora sobre educação, sobre cultura, porque até então parece que é mais interessante falar de obra, de prédio, daquilo que é visto mesmo. Eu já entendo que o mais importante seja o ser humano, a formação cidadã, o amor pela cidade, desenvolver este carinho por São Sebastião, já que tem tanto migrante aqui, precisamos trabalhar este lado de carinho pelo município.

Neste contexto de cultura, você já foi diretor, já teve passagem pela secretaria em outra administração, qual a avaliação que faz sobre esta área?

Eu tenho respeito de todos os vereadores neste sentido, porque é incomparável o que fizemos de 2005 a 2008 com 20% do orçamento com o que fazem hoje com a cultura da cidade. Posso falar tranquilamente que a cultura hoje não existe, se existe é para alguns, pra meia dúzia. É quase uma amostragem de cultura. Trabalhávamos com 16 monitores culturais, atendíamos 1,2 mil crianças, sendo que hoje nós temos 59 assessores culturais  - mudaram o nome – e talvez não cheguem a metade do que atendíamos.  Hoje as oficinas são uma verdadeira encenação de oficinas. É uma ou outra oficina, um ou outro bairro que tem, pra dizer que tem. Não existe mais começo, meio e fim.


Você sempre coloca que vereança não é profissão, sempre utiliza sua profissão de professor à frente. Quando você decidiu ser candidato e assim foi eleito, era isso mesmo que você esperava hoje? E se houve, qual foi sua grande decepção?

Minha grande decepção é sentir um Legislativo amarrado. Perceber a força que o Executivo tem sobre aqueles que deveriam fiscalizá-lo. Isso me incomoda demais. Muita gente me diz que isso faz parte do jogo, isso é a base do governo, mas eu imaginava que chegando na lei, a lei era que mandava, que era soberana, e que teria de ser atendida a todo custo. E a gente percebe que quando começam a flexibilizar a própria lei, então é da onde vem a tristeza com todo o sistema mesmo. Quanto a ser professor, sou professor de formação, por paixão ao magistério, e continuo dando aula até porque pra falar do que estão fazendo de errado eu preciso ser diferente. Então, de maneira alguma poderia transformar a política no meu sustento.

Como você viu todo aquele episódio da representação, a questão do decoro parlamentar. Como você avalia isso tudo?

A maior perda de tempo que a Câmara sofreu neste curto período de trabalho. Foram quatro pseudocrimes que quiseram encontrar ali. O fato de eu adesivar o carro, por exemplo, pra deixar mais transparente o uso do veículo a serviço da Câmara; que eu fui a uma sessão extraordinária de bermuda, com uniforme do colégio e de chinelo; porque eu comparei a Câmara numa manifestação popular com o açougue do Ricota; e porque eu me refiro à plateia e não aos vereadores como fofuchos, meus amores, meus queridos, como sempre fiz em 15 anos de sala de aula. Então, imperou o bom senso, mas acho que foi um grande espetáculo de mau gosto tudo isso, um grande tiro no pé.

Você sofre algum tipo de preconceito no meio político por conta da sua orientação sexual?

A minha orientação sexual, com minha postura, sempre foi aceita bem em sala de aula. Com o tempo em São Sebastião, minha orientação sexual foi ficando sem graça. Se minha orientação sexual não tem graça nem pra mim...(risos), acho uma bobagem que tenha graça para os outros. Não sinto preconceito, pelo contrário, quando querem brincar sobre o assunto me sinto super à vontade. Aliás, eu mesmo brinco com minha sexualidade.

Desde o início do mandato você tem as redes sociais como um grande instrumento de informação de seu trabalho, talvez sua principal ferramenta de comunicação. Qual o resultado que você vê de tudo isso?

Tenho uma excelente equipe de trabalho, a menor equipe entre todos os vereadores, mas não tenho o menor pudor pra dizer que a melhor equipe é a minha. Pelos números, pelo alcance que a gente tem, pelo trabalho desenvolvido no município, é o resultado do trabalho deles, da competência deles mesmo.

Como você avalia hoje a sua relação com os demais vereadores?

É boa, é assim... Eles me respeitam, sabem daquilo que seria uma ofensa, uma violência comigo. E eu, de alguma forma, procuro respeitá-los. Mas o meu alvo não é o Legislativo, o problema do Legislativo é a Justiça. Minha função é fiscalizar o Executivo. Nos poucos embates que tive com vereador  é porque talvez isso não tenha ficado muito claro. Não tenho problema nenhum com vereador. Preciso fiscalizar o prefeito, secretários, diretores, preciso ser um porta-voz do município. E fiscalizar nunca é uma tarefa gostosa né, divertida, é ruim mesmo. Sempre brinco com eles. Se quisesse aplaudir o prefeito teria aceito o convite pra ser secretário.

Então, até pegando o gancho nisso, você foi convidado mesmo a assumir a Sectur?

Fui convidado primeiramente a apresentar um projeto pra Secretaria de Cultura e fui pessoalmente pela secretária Marianita pra assumir o Departamento de Cultura. Depois veio a ideia de eu apresentar um projeto.

E como você avalia este convite?

Não posso acreditar que me convidaram, não sou ingênuo assim, que eles se apaixonaram pelo trabalho que a gente desenvolveu lá atrás. É mais um jogo político.  Mesmo porque se quisessem se espelhar no que fizemos entre 2005 e 2008, muitas das ideias do que nós fizemos estão todas lá. E muito do que a gente imagina, nós sugerimos nos requerimentos. Não fazem porque não querem.

A questão da saúde, vimos recente que um vereador questionou o fato de moradores de Caraguá utilizarem o hospital, o pronto-socorro da cidade. O vereador questiona inclusive o Estado em relação a isso. O que você acha desse fato e a situação da saúde no município?

O problema da saúde no município acho que é ingerência. Fazer política em cima da saúde, em cima da educação, sempre dá nisso. O problema da saúde é que o estrago é imediato, na educação leva um pouco mais de tempo. Então quando se coloca agente político ao invés de técnico para cuidar da saúde é isso que vai dar. Se o município são pactuados com o Sistema Único da Saúde, se Caraguá tem especialidade que aqui não tem, e se aqui tem o que não tem lá, então faz parte do jogo. Isso o que está acontecendo em São Sebastião é incompetência da administração. Qualquer um que sai em defesa da incompetência está jogando palavra pro vento, uma grande bobagem.

Como você define a política em São Sebastião?

Rasteira. Rasteira...(pausa). É subsidiada da forma mais rasa possível. Ela é quase inconsequente com o próprio município. A política de São Sebastião está transformando isso aqui numa cidade morta.

Tem saída?

Tem. E seria uma incoerência se eu como professor, e como estou, vereador, dissesse que não tem. Tem sim. Acho que cada vez mais a imprensa tem de fazer ainda mais o seu papel, com liberdade, autonomia, coragem. Aposto muito nos agentes formadores de cidadãos, nos professores, monitores culturais, nas pessoas que trabalham com público, com criança. De alguma forma, a gente precisa acabar com esse toma lá da cá que impera na política nacional, mas em São Sebastião parece que é pior. Um exemplo clássico que vejo é usarem as Zeis (Zonas de Especial Interesse Social) pra transformarem em voto. ‘Deixa invadir, deixa arrebentar com a cidade, porque depois a gente vai, regulariza, e esse pessoal ainda vai ser agradecido a nós’. E a forma de agradecimento é o voto. Isto é, arrebenta a cidade em troca de voto. E isso a gente só combate com amor ao município. As pessoas precisam gostar da cidade.

Você já falou de saúde e de cultura, e a Educação que é sua área de atuação?

A Educação de São Sebastião é abaixo de seu potencial. Uma cidade que tem o orçamento que tem em Educação, não pode ter os índices do Ideb que temos, iguais aos sertões mais miseráveis do nordeste brasileiro. Uma cidade que tem 53 unidades, que se dá ao luxo de gastar no final do ano R$ 300 mil pra alugar uma tenda pra colocar as escolas mostrando seus trabalhinhos, em contrapartida você encontra escola que não tem pincel atômico – porque inventaram de colocar lousa branca, mas não tem pincel. Uma rede municipal que adora falar que tem 100% de salas de informática, mas que não tem internet. O que se comemora disso tudo? É a comemoração da maquiagem, da fantasia. Até por isso fiz questão de ficar na sala de aula da escola pública também, pra não perder as raízes, pra não me distanciar, e ficar sabendo da verdade. Não distante, há três semanas serviram a merenda com cachorro-quente com a salsicha dividida ao meio pra economizar. Isso não cabe.

Qual sua opinião em relação a este volume de investimento apontado para a região, desde a Tamoios, a nova estrada, a questão portuária? Agora a questão do porto teve uma suspensão, o que acha de tudo isso, especialmente, a questão da ocupação desordenada.

É mais um desafio pra São Sebastião. Dá mais medo agora. O que vai se transformar isso aqui. Vejo que as pessoas que estão na administração da cidade não pensam na cidade daqui 10, 15, 20 anos. Ocupam seus cargos agora, precisam aproveitar tudo que os cargos oferecem agora, muitos deles querem ajeitar a suas vidinhas agora, mas ninguém tem a responsabilidade de saber que vai passar uma rodovia cortando a Topolândia, que vai aumentar a ocupação desordenada, que pode aumentar os riscos para o meio ambiente. Ninguém que está no poder está disposto a discutir o que vai acontecer daqui a 10 anos. Muitos deles vão sair agora, talvez não queiram mais, ou talvez não precisem mais porque suas contas estão polpudas.

De uns tempos pra cá, seu nome começa a circular como provável candidato a prefeito em 2016. Faz parte do seu projeto político e você encararia o desafio?

Nunca pensei a respeito. Tenho um grupo político, sou filiado ao PMDB, com o Juan presidente. Não tem nada disso não. Tenho a preocupação de fazer o meu papel no momento, porque senão começa vender a alma ao diabo, e isso é a grande perda do político neste país.