Maringoni afirma que as prioridades para o Litoral Norte são as mesmas do Estado: transporte…

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Litoral Norte-29/09/2014 - Gilberto Maringoni, 56 anos,  professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e doutor em História Social pela FFLCH-USP, é candidato a governador pelo PSOL. É autor de 12 livros e ativista político desde 1977. Atuou no movimento estudantil, no final dos anos 70, tempos finais da ditadura. Foi dirigente do PT, no qual militou entre 1988 e 2005, desligando-se do partido por divergências com seus rumos. Desde então é filiado ao PSOL, chegando a ser membro de sua direção nacional. Considera que as prioridades para o Litoral Norte são as mesmas do Estado, com crise em diversos setores essenciais, como transporte, saúde e segurança.

Foto: Luís Felipe Marques/Divulgação

Litoral Norte-29/09/2014 - Gilberto Maringoni, 56 anos,  professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e doutor em História Social pela FFLCH-USP, é candidato a governador pelo PSOL. É autor de 12 livros e ativista político desde 1977. Atuou no movimento estudantil, no final dos anos 70, tempos finais da ditadura. Foi dirigente do PT, no qual militou entre 1988 e 2005, desligando-se do partido por divergências com seus rumos. Desde então é filiado ao PSOL, chegando a ser membro de sua direção nacional. Considera que as prioridades para o Litoral Norte são as mesmas do Estado, com crise em diversos setores essenciais, como transporte, saúde e segurança.

Confira a íntegra da entrevista.

RADAR LITORAL - Quais as suas prioridades para o Litoral Norte?
GILBERTO MARINGONI -  Elas vão ao encontro das prioridades para o estado de São Paulo. Enfrentamos atualmente situações de crise em diversos setores essenciais: transporte, saúde, segurança e até mesmo falta de água. Isso expressa a falta de investimentos por parte do governo estadual e a privatização de empresas públicas, realizadas nos anos 1990. A iniciativa privada não faz investimentos em políticas públicas. O Litoral Norte também sofre as consequências desse modelo: problemas no transporte coletivo, falta de segurança e a crise da água. No verão passado, faltou água nas cidades da região. Não sabemos ainda como será a situação no ano que vem.

RL – Como o sr. pretende atuar para minimizar os problemas das desapropriações devido às obras do contorno da Rodovia dos Tamoios?
MARINGONI - As desapropriações que precisam ser feitas devem com ressarcimento justo, de acordo com o valor real dos terrenos da região. O fato é que antes de iniciar obras nas rodovias, é preciso dialogar com os moradores e com o poder público da região.

RL – Como resolver o problema da travessia por balsas entre São Sebastião e Ilhabela?
MARINGONI - A balsa entre Sebastião e Ilhabela é administrada pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), controlada pelo governo estadual. Mas não é por isso que surgem os problemas. O que acontece é que pouco se investe. E São Paulo tem mais recursos? Claro, o estado possui uma dívida ativa de 190 bilhões de reais. Essa dívida já tramitou na Justiça em todas as instâncias, a causa é favorável ao estado. Falta apenas cobrar dos grandes devedores para que tenhamos mais condições de realizar investimentos.

RL – Como o sr. pretende atuar para que a região tenha um hospital regional?
MARINGONI - Essa é uma carência geral do estado. É preciso de fato construir mais hospitais públicos. É preciso também acabar com as parcerias público-privadas nos hospitais públicos para que o dinheiro público fique realmente com o SUS, e não com a iniciativa privada.

RL – Como o Estado pode incrementar o Turismo no Litoral Norte para minimizar os problemas da sazonalidade?
MARINGONI - Minimizar a sazonalidade e fomentar o turismo no Litoral Norte são políticas que devem ser feitas em parcerias com as prefeituras municipais através das Secretarias de Turismo. Neste sentido, é importante realizar investimentos em setores fundamentais para melhorar a qualidade de vida das cidades da região. Por exemplo, no transporte, para que o turista se sinta motivado a utilizar o transporte público coletivo, reduzindo assim os congestionamentos nas temporadas. É também necessário fazer investimentos públicos em saneamento básico e na destinação do lixo.

 
RL – Hoje os municípios exportam o lixo produzido na região. Qual a sua proposta para a destinação final do lixo produzido nas cidades do Litoral Norte? 
MARINGONI - O problema do lixo na região se arrasta há anos. É inadmissível que o Litoral Norte, região turística rodeada por áreas de preservação ambiental, não tenha locais para destinar o lixo. É preciso viajar, gastar milhares de reais para levar o livro a aterros particulares em cidades do Vale do Paraíba. Falta investimento por parte da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) na criação de um projeto que não traga impactos ambientais e que seja sustentável para esses municípios ao longo das próximas décadas.

RL - A violência é um dos problemas da região. Qual a sua proposta para essa área?
MARINGONI - A violência não é um problema apenas do Litoral Norte. A situação é alarmante em todo o estado de São Paulo. A gente precisa reformular nossa política para segurança. Nossas polícias precisam ganhar eficiência. Isso se faz unificando a PM e a Polícia Civil e qualificando e remunerando melhor os policiais. É preciso também reduzir a violência policial. O primeiro passo é desmilitarizar a Polícia Militar, criada no primeiro semestre de 1970, durante a ditadura, com uma mentalidade de tratar todos aqueles que discordassem do governo como inimigos. Com isso, foi gerada uma cultura em que a polícia não é parceira da população. Não é toda a instituição que age desta maneira, evidentemente. A sociedade precisa da polícia e a polícia precisa da sociedade.

Mas nada disso será suficiente se não entendermos que o problema de segurança não é só policial. A situação existe por conta das condições de vida e de renda da população. A solução é fazer um trabalho que interaja política de segurança com educação, renda, emprego. Essa política será assim em todo estado, inclusive nos municípios do Litoral Norte.

RL – Qual a sua proposta para o Porto de São Sebastião?
MARINGONI - Eu acompanhei a discussão em torno da privatização do Porto de São Sebastião. O argumento de que o estado é ineficiente e não tem condições de investir no porto é mentiroso. Desde 1934, o estado de São Paulo tem a incumbência de administrar esse porto. Essa discussão veio à tona porque os governos têm como meta privatizar vários setores alegando dificuldade de administrá-los, principalmente depois do fim da Empresa de Portos do Brasil S/A – Portobras. Quando você privatiza o porto, ou seja, entrega o porto para empresas privadas administrarem, está tirando das mãos do Estado a possibilidade de investir e de fazer planejamento. A iniciativa privada recebe lucros altíssimos com a administração das antigas estatais e não realiza investimentos por uma razão elementar: o mercado quer ganhos imediatos. Outra questão importante em relação ao porto de São Sebastião é ambiental. Não há dúvidas de que é necessário expandir o porto, mas é preciso avaliar por meio de estudos técnicos quais seriam os reais impactos da expansão do porto para as cidades do Litoral Norte.

RL – Ubatuba tem o único aeroporto da região. Como torná-lo viável para o Turismo?
MARINGONI - Para tornar o aeroporto mais viável ao turismo é preciso investir nos mecanismos que façam a ligação entre Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela. Vamos fazer estudos técnicos para avaliar a possibilidade de construir hidrovias, sem causar impactos ambientais. De imediato, uma das soluções é investir em transporte coletivo de qualidade ligando Ubatuba a Caraguatatuba e a São Sebastião, como já acontece em outras cidades turísticas que têm aeroporto. 

RL - Como o sr. pretende se relacionar com as autoridades da região (prefeitos e vereadores)?
MARINGONI - O diálogo com os poderes legislativos municipais é também fundamental, pois não é fácil administrar São Paulo. É um estado muito diverso, com diferentes características em cada região e que tem o tamanho de um país.  Parcerias entre governo estadual e prefeituras são fundamentais.

RL – Deixe uma mensagem para a população do Litoral Norte e por que os eleitores da região devem votar no senhor.
MARINGONI - Nas eleições, os candidatos fazem uma série de promessas. Vão construir casas, metrô, estradas e as eleições acabam se tornando uma gincana. O que nós colocamos em pauta são questões reais da política: é preciso mudar a qualidade do desenvolvimento. O problema não é quantidade de quilômetros que eu vou fazer, mas sim qual é a qualidade. E a questão política que não está colocada é o papel do Estado.